Um programa informático apresentado como tão eficaz quanto um médico em termos de diagnóstico provocou uma polêmica no Reino Unido sobre até que ponto o sistema de saúde público pode confiar na inteligência artificial.
A companhia britânica Babylon, especialista em inteligência artificial que trabalha com o serviço nacional de saúde (National Health Service, NHS), afirma ter desenvolvido um programa que teve melhores resultados que os médicos em um teste.
O software, integrado em um aplicativo digital, convida o usuário a descrever seus sintomas em uma conversa por escrito parecida a mensagens de texto, e depois propõe um diagnóstico.
A empresa submeteu o programa à bateria de perguntas que costuma ser formulada aos estudantes de medicina e que é elaborada pelo Royal College of General Practitioners (RCGP), o organismo profissional que representa os clínicos gerais no Reino Unido.
O software obteve 81% de respostas corretas em sua primeira prova, quando a nota média dos futuros médicos foi de 72% durante os últimos cinco anos, segundo Babylon.
Um resultado “histórico”, comemorou Ali Parsa, fundador da empresa, durante uma apresentação em Londres na semana passada.
Com esta inovação, “a humanidade dá um passo importante em direção a um mundo em que ninguém será privado de conselhos de saúde seguros e precisos”, declarou.
Para Andrew Goddard, médico do NHS e presidente do Royal College of Physicians (RCP), uma organização internacional que reúne 34.000 médicos, a inteligência artificial é “o futuro”.
“A medicina necessita se envolver nesta via”, declarou na apresentação celebrada nas instalações do RCP.
– ‘Status quo defasado’ –
O Royal College of General Practitioners desaprova, no entanto, a iniciativa e as conclusões da empresa.
“Nenhum aplicativo, nenhum algoritmo poderá fazer o que faz um clínico geral”, afirma Martin Marshall, vice-presidente do RCGP.
“As máquinas são máquinas, os médicos são profissionais altamente formados e treinados. Os dois são incomparáveis, uma máquina pode ajudar um médico, mas nunca poderá substituí-lo”, afirma.
O RCGP também critica a escolha das perguntas introduzidas pela Babylon no software para o experimento.
Mobasher Butt, diretor médico da empresa, replicou acusando o RCGP de apoiar um “status quo defasado” em benefício de alguns poucos clínicos gerais.
A companhia afirma que seu objetivo é “tornar o serviço de saúde acessível, ao alcance de todas as pessoas do planeta”.
– Seleção de pacientes –
Em setembro, a Babylon lançou um aplicativo destinado aos pacientes do NHS. Atualmente é usado por 50.000 pessoas.
A empresa reivindica também dois milhões de usuários em Ruanda com seu aplicativo digital de saúde chamado “Um médico ao alcance da mão”. E trabalha com dois pesos pesados do setor – Samsung e Tencent – para ampliar a oferta e entrar em outros continentes.
“Acredito que estamos a ponto de fazer pela saúde o que o Google, por exemplo, fez com a informação”, estima Ali Parsa.
O fundador da empresa pede à comunidade médica que compartilhe a alegria pelo desenvolvimento da inteligência artificial, porque este ajudará a reduzir os custos.
O RCGP afirma que a Babylon “seleciona” seus pacientes e “deixa os serviços de medicina geral tratarem os casos mais complexos”.
“A forma como se usa corre o risco de desacreditar e minar os serviços de medicina geral tradicionais”, acrescenta.