O que você acha de professores usarem armas para defenderem seus alunos? É, no mínimo, interessante pensar no assunto. O El País escreveu uma matéria sobre o assunto, vejam abaixo.
Nos Estados Unidos, país que registrou 242 ataques com armas em escolas e universidades nos últimos cinco anos, o debate sobre a forma mais efetiva de prevenir esse tipo de crime passa por opções tão distintas quanto um maior controle sobre a venda de armas, a permissão de que professores possuam armas para defesa dos estudantes e uma abordagem para identificar e tratar jovens que possam se tornar um futuro agressor.
A discussão é polarizada como tudo o que envolve o direito ao porte de armas nos EUA, garantido pela Segunda Emenda da Constituição.
Segundo levantamento recente do Centro de Pesquisas Pew, 66% que possuem ao menos uma arma apoiam a ideia de que professores e funcionários portem armas em escolas de ensino primário para defender alunos. Entre quem não tem armas, o percentual cai para 35%.
O debate se acentuou após o massacre da escola primária Sandy Hook, em Newtown, Connecticut, em dezembro de 2012, onde um atirador matou 20 crianças entre seis e sete anos e seis adultos.
Uma lei federal americana de 1994 proíbe a posse de armas dentro e num raio de até 300 metros de uma escola primária. Em oito Estados, no entanto, a proibição não se aplica a quem tiver autorização de possuir armas. Alguns distritos escolares, como Hanover, em Colorado Springs (Colorado), inclusive, decidiram recentemente, por votação, permitir que professores levem armas para a sala de aula.
Para a especialista da Universidade do Sul da Califórnia Marleen Wong, que foi assessora do Departamento de Educação no governo Obama para a prevenção de ataques com armas em escolas, a solução não é a ideal para o problema: “Não acho que devam haver armas nas escolas”.
Wong é defensora de programas como o Projeto Aware (alerta, em inglês), do governo federal, que tem como foco treinar professores e funcionários de escolas para identificar adolescentes que sinalizem qualquer tipo de comportamento ou transtorno mental que possa levar a uma ação extrema.
“Os professores podem observar mudanças no histórico escolar, com notas caindo de repente, ou no comportamento do estudante que passa a brigar mais com outras pessoas, fazer desenhos perturbadores ou escrever textos sobre machucar outras pessoas.”
Segundo Wong, há um padrão de isolamento entre os autores desse tipo de crime que muitas vezes não é percebido ou é até negligenciado por familiares e pela escola. “Em muitos casos, o jovem chega a verbalizar o que pretende fazer para outros estudantes, mas eles minimizam, acham que é uma piada e não contam a ninguém”, diz.
No caso do adolescente de 14 anos que matou estudantes a tiros nesta sexta (20) em Goiânia (GO), o garoto disse à polícia ter matado os colegas porque sofria bullying.
O atirador também afirmou aos policiais ter se inspirado no massacre da Columbine High School, em 1999, nos EUA, crime ocorrido quatro anos antes de ele nascer. Na tragédia que chocou o país e o mundo, dois adolescentes armados mataram 13 estudantes e um professor na escola de Littleton, no Colorado.
“Muitas vezes esses jovens se identificam com outros que cometeram ataques e chegam à conclusão de que essa é a maneira possível de resolver os problemas”, diz Wong.
Segundo um levantamento da Everytown for Gun Safety, uma das principais organizações de lobby contra as armas, dos 242 ataques registrados em escolas e universidades americanas desde 2013 (33 só em 2017), mais da metade (53%) ocorreu numa escola primária. Entram na conta apenas as ações em que uma arma é disparada dentro de uma escola ou de um campus.
Uma análise feita com os dados dos 160 ataques registrados até o fim de 2015 (e que deixaram 59 mortos e 124 feridos nos EUA), mostrou que mais da metade dos jovens que atiraram teve acesso à arma dentro de casa. No caso de Goiânia, a arma usada pelo garoto era da mãe, que é policial militar, assim como o pai.
De acordo com um levantamento recente do Centro de Pesquisas Pew, dos adultos americanos que possuem pelo menos uma arma, 38% dizem mantê-la carregada e “com fácil acesso” em casa e 17% dizem fazer isso “a maior parte do tempo”. Um terço deles diz que nunca guarda a arma carregada.
Fonte: El País