Ele descreve mesquitas como “bases inimigas” e se refere a muçulmanos como “cães loucos”. Também acusa os adeptos do Islã de “roubar e estuprar mulheres birmanesas” e de “se reproduzirem muito rápido”.
Durante anos, as autoridades de Mianmar deram proteção e apoio ao monge budista mais polêmico do mundo, Ashin Wirathu, o que lhe permitiu seguir adiante com suas pregações extremas.
Mas depois de seu ataque à chefe de governo Aung San Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, as autoridades do país parecem ter concluído que o monge foi longe demais. Agora ele pode ser preso sob acusação de perturbação da ordem pública.
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Mas quem é esse monge controverso, conhecido como “Bin Laden budista”?
Em 2001, Wirathu chamou atenção ao liderar uma campanha para boicotar empresas que pertenciam a muçulmanos.
Ele foi preso e sentenciado a 25 anos de prisão em 2003, mas solto em 2010, após uma anistia geral. Mas o encarceramento não parece ter reduzido seu fervor ativista contra as minorias muçulmanas do país.
Em seus discursos, ele mistura parábolas budistas com fortes doses de nacionalismo.
Ele fala com calma e clareza durante as entrevistas à imprensa, mas se inflama em reuniões públicas. Suas palavras semeiam o ódio – e a islamofobia existente no país.
Wirathu também fez campanhas pela a aprovação de uma lei que proíbe homens muçulmanos de se casarem com mulheres budistas.
“Você não pode subestimar uma cobra porque ela é pequena. Os muçulmanos são assim”, disse ele, certa vez.
Banido das redes sociais
Nos últimos anos, o monge passou a divulgar nas redes sociais a mensagem de que a cultura budista do país seria esmagada por uma crescente população muçulmana.
Eventualmente, o Facebook bloqueou sua conta em janeiro de 2018, citando suas mensagens de ódio contra a minoria muçulmana rohingya do país.
Wirathu afirmou que procuraria outras plataformas para divulgar suas ideias.
“Quando o Facebook me baniu, passei a confiar no YouTube. Mas o YouTube não é abrangente o suficiente, então vou usar o Twitter para continuar o trabalho nacionalista”, disse ele.
Ele também compartilha seus vídeos pelo VK, uma espécie de Facebook russo.
Mas não foi apenas o Facebook a bani-lo. Em abril deste ano, ele foi impedido de fazer um sermão na vizinha Tailândia, que também tem maioria budista.
Incompreendido
A popularidade de Wirathu reflete a difícil situação dos muçulmanos de Mianmar, onde formam apenas cerca de cinco por cento da população.
Em julho de 2013, a revista Time publicou uma foto do monge na capa com a legenda “O rosto do terror budista”.
“Estou sendo mal interpretado e atacado. Acho que há um grupo pagando à mídia para me difamar. Certamente a mídia online é controlada por muçulmanos”, disse ele à BBC em 2013.
Ele foi descrito como “Bin Laden budista” em um documentário lançado em 2015 – apelido rapidamente adotado por alguns veículos de mídia. Porém, Wirathu rejeita a comparação.
Ele diz que abomina a violência. “Eu nem gosto de responder com grosseria”, disse.
Budismo
Mianmar não tem religião oficial definida pelo governo, mas a sociedade é fortemente influenciada pelo budismo – cerca de 90% da população se diz adepta da religião.
Os monastérios desfrutaram de patrocínio estatal há séculos – a ajuda só terminou no século 19, durante o período colonial britânico.
Magníficos templos budistas enfeitam a paisagem de Myanmar, nutridos pelas águas do Irrawaddy e outros rios. Os mosteiros são donos de grandes faixas de terras aráveis.
O país, com população de 54 milhões, tem uma longa história de ditadura militar e mantém um Exército permanente de mais de 400 mil soldados. Estima-se que o número de monges budistas seja ainda maior, de 500 mil – eles desfrutam de status social elevado e são amplamente reverenciados pela população.
Ataque a líder política
Mas os problemas para o monge realmente começaram quando ele atacou a figura mais popular do país, a ativista e líder política Aung San Suu Kyi.
“Ela se veste como uma fashionista, usa maquiagem e anda por aí em elegantes sapatos de salto alto, sacudindo a bunda para estrangeiros”, disse ele a uma multidão em abril deste ano.
Em um discurso proferido em maio, Wirathu a acusou de “dormir com um estrangeiro”.
Suu Kyi foi casada com o acadêmico britânico Michael Aris, que morreu de câncer em 1999, enquanto ela estava sob prisão domiciliar imposta pelo regime militar.
“Wirathu é um monge muito popular e comanda um grande número de seguidores. Essa massa fica feliz quando ele ataca os muçulmanos. Mas quando ele atinge Aung San Suu Kyi, sua popularidade leva uma pancada e despenca”, diz Myat Thu, co-fundador do centro de estudos Escola de Ciência Política de Yangun.