Acidente na Replan completa 1 mês e especialista em explosões explica riscos e precauções

Por Fernando Evans, G1 Campinas e região

 

Área da Replan, refinaria da Petrobras em Paulínia, é resfriada após explosão. — Foto: Reprodução/EPTVÁrea da Replan, refinaria da Petrobras em Paulínia, é resfriada após explosão. — Foto: Reprodução/EPTV

Área da Replan, refinaria da Petrobras em Paulínia, é resfriada após explosão. — Foto: Reprodução/EPTV

Um mês após o acidente que afetou uma das linhas de produção da Refinaria de Paulínia (Replan), a maior da Petrobras no país, ainda são muitas as questões que cercam o acidente ocorrido em 20 de agosto. Para saber sobre os riscos existentes nesse tipo de estrutura e as precauções necessárias, o G1 conversou com uma especialista em explosões.

Professor de engenharia química e coordenador do Laboratório de Análise de Risco Industrial e Segurança Ambiental (L4ris4) da Unicamp, Sávio Souza Venâncio Vianna lembra que não existe “risco zero” nesse campo de atuação, e minimiza sobre o temor de novos acidentes na Replan, principalmente para quem mora e trabalha no entorno.

“Hoje ninguém está exposto a risco maior do que já esteve”, diz.

Apesar da repercussão causada pela explosão, e os impactos gerados com a redução da capacidade produtiva da refinaria, Vianna analisa o acidente por uma outro aspecto. “Talvez que o que a gente está discutindo aqui seja um reflexo do investimento que existe em prevenção, e que anos atrás poderia ser pior”, defende.

“Uma refinaria tem todos os ingredientes para uma tragédia, mas você não vê incidentes o tempo todo”, argumenta.

Simulando uma explosão: 'Onda de sobrepressão em quatro instantes de tempo numa área de processo' — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/UnicampSimulando uma explosão: 'Onda de sobrepressão em quatro instantes de tempo numa área de processo' — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/Unicamp

Simulando uma explosão: ‘Onda de sobrepressão em quatro instantes de tempo numa área de processo’ — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/Unicamp

Simulando uma explosão

Segundo o professor, que atua com “simulações de explosões”, esse tipo de recurso faz parte dos investimentos em segurança da Petrobras em refinarias como a Replan. São levados em conta, além dos equipamentos e estrutura, cada tipo de material envolvido em uma linha de produção.

Gás natural, gasolina, etanol, óleo diesel, cada um tem uma característica e uma capacidade reativa a explosão, o que gera dados e cenários diferentes no trabalho de precaução.

“Cada combustível tem uma prioridade diferente, e nós fazemos o estudo de cada um para adequar a análise, ter um estudo mais refinado”, explica Tatiele Ferreira, que desenvolveu sua tese de doutorado com o professor Sávio na área.

Simulação de explosão em área de processamento químico em um instante de tempo simulado com o software desenvolvido pela FEQ — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/UnicampSimulação de explosão em área de processamento químico em um instante de tempo simulado com o software desenvolvido pela FEQ — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/Unicamp

Simulação de explosão em área de processamento químico em um instante de tempo simulado com o software desenvolvido pela FEQ — Foto: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)/Unicamp

Sávio e Tatiele trabalham no desenvolvimento de um software 100% nacional, desenvolvido na Unicamp, que realiza essas simulações.

“Esse tipo de modelagem que desenvolvemos aqui leva em conta isso. Até por que um acidente numa área que forma gás é diferente que no craqueamento da refinaria.”

Na avaliação dos profissionais, o trabalho com gases é o mais “perigoso”. “Quando acontece um acidente com combustível líquido, ele vai incendiar e formar o que chamamos de ‘incêndio em poça’. É ‘menos ruim’, já que fica confinado, queimando”, explica Sávio.

Professor Sávio Vianna, da Unicamp, é especialista em explosões — Foto: Fernando Evans/G1Professor Sávio Vianna, da Unicamp, é especialista em explosões — Foto: Fernando Evans/G1

Professor Sávio Vianna, da Unicamp, é especialista em explosões — Foto: Fernando Evans/G1

Riscos variados

E os riscos de explosão ou acidentes em uma refinaria não estão relacionados apenas ao material que é refinado. Há muita pressão e outros materiais perigosos envolvidos no processo, como o hidrogênio, “muito mais reativo” que o metano, destaca o professor.

Tatiele Ferreira auxiliou no desenvolvimento da ferramenta da Unicamp que simula explosões — Foto: Fernando Evans/G1Tatiele Ferreira auxiliou no desenvolvimento da ferramenta da Unicamp que simula explosões — Foto: Fernando Evans/G1

Tatiele Ferreira auxiliou no desenvolvimento da ferramenta da Unicamp que simula explosões — Foto: Fernando Evans/G1

“Existem dois tipos de mecanismo de explosão. A deflagração e a detonação. O mais comum em áreas de processo é a deflagração, o outro é mais severo. A diferença é a velocidade que a chama se propaga. Na detonação, a chama avança na velocidade do som, ou acima. Na deflagração, abaixo da velocidade do som”, diz.

O engenheiro químico completa: Quando ocorre a explosão, o ‘bang’, a onda de choque, chega primeiro que a chama. Na detonação, as coisas se confundem. E o hidrogênio detona!”